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Ecommerce à Quarta – Edição #5 – Abrir uma empresa para vender online: conhece todos os passos a dar?

“Abrir uma empresa para vender online: conhece todos os passos a dar?” é o tema do episódio de hoje. Pode acompanhar no Spotify, Soundcloud ou Youtube.

Além da Vera e da Sónia, temos uma convidada: Inês Martins. A Inês é responsável do departamento financeiro da TSE e da Shaeco.

Sónia Costa (SC): A realidade é que vender online tem todas as exigências que uma empresa tem, portanto não é pelo fato de estarmos na internet e vendermos através de um site que de repente temos que nos esquivar de certas obrigações.

Vera Maia (VM): Isto é uma questão que nos colocam muitas vezes, tanto os nossos alunos como pessoas que nos mandam mensagens, que nos pedem para escrever blog posts sobre o assunto… Portanto, achamos que seria o momento certo para chamarmos a Inês e podermos colocar estas dúvidas que nos costumam chegar.

Então, lançava aqui uma primeira questão: o que preciso de fazer então para abrir a minha própria empresa? Que passos tenho de dar?

Devemos abrir empresa e devemos faturar, mas há aqui outras opções. Podemos ser um empresário em nome individual, podemos usar recibos verdes, mas a partir do momento que nós faturamos 25 mil euros/ano (ou pretendemos) a melhor a melhor opção é mesmo ter a empresa, não é?

Inês Martins (IM): Sim, eu vou também contar um bocado da minha história, porque eu mais ou menos há cerca de um ano e meio também abri a minha própria empresa. Portanto foi uma coisa que eu fiz recentemente e ainda tenho fresco o que é que aconteceu na altura. Eu também nunca tinha aberto uma empresa, ou seja, foram toda uma série de passos que eu tive que aprender e tive que dar.

Eu na altura comecei por falar com uma pessoa que percebesse do assunto. Ou seja, nesse caso foi uma empresa de contabilidade que me foi recomendada e estive a discutir com essa pessoa quais eram as possibilidades e o que é que me recomendava. Portanto, eu acho que é sempre bom começar por falar com alguém que esteja minimamente dentro do assunto para te aconselhar. Aquilo que me aconselharam na altura foi efetivamente optar por abrir uma empresa, neste caso uma sociedade por quotas, uma sociedade unipessoal por quotas em que eu sou a sócia única.

Temos outras opções, como tu bem disseste, uma pessoa pode ser empresária em nome individual em que não tem que abrir uma empresa como nós estamos habituados a uma sociedade por quotas ou uma sociedade anónima, em que basicamente tem que ir às Finanças e fazer uma declaração no início de atividade onde vai emitir recibos verdes (sem ter uma empresa, chamemos-lhe assim, por detrás)

Se efetivamente estás a querer vender produtos online, ou seja, já é uma atividade comercial que não é uma coisa pequenina, então sim faz sentido tu abrires uma empresa. Até porque nestes casos normalmente o teu património pessoal está protegido, ou seja, se acontecer alguma coisa com a atividade e com a empresa – obviamente uma pessoa não espera isso, mas temos que saber o que vai acontecer – o patrimônio pessoal não entra para liquidação, para pagamento de dívidas que a empresa tenha contraído. Isso é uma das vantagens face a um empresário em nome individual.

VM: Ok e qual é que é o processo? Portanto, basicamente é ir à Conservatória e abrir a empresa na hora?

IM: Sim, no meu caso como eu já tinha escolhido a pessoa que ia ser o meu técnico oficial de contas, fui com ele às Finanças e fizemos logo tudo na hora. O que é que eu fiz previamente? O que também ajuda, eu fui ao site “Empresa na Hora” onde tu tens uma lista de nomes que estão previamente criados que pode escolher para o nome da tua empresa. Portanto, havia já uma série de coisas que eu levava já escolhidas e feitas. Lá, foi muito simples. Fui com o contabilista e na hora abrimos a empresa e ficou tudo tratado.

VM: E em relação ao e-commerce, tens noção do CAE? Eu acho que as pessoas não entendem muito bem, mas nós precisamos de associar num determinado CAE aquilo que nós vamos vender e, portanto, existe um CAE de e-commerce.

IM: Exatamente, o CAE do e-commerce é o 47 910 que é o comércio a retalho por correspondência ou via internet. A minha sugestão é nunca escolher só um CAE que seja demasiado específico, ou seja, deixem sempre alguma abertura para terem outro tipo de atividades. Quanto estamos a falar do comércio online muitas vezes as empresas passam, por exemplo, de só vender online para ter também um negócio com venda física. E nesse caso o CAE de vendas online não é aplicável, tem que ter outro. Aliás, quanto estás a abrir uma empresa, eles quase que obrigam a escolher três CAE associados à empresa exatamente para permitir ter outro tipo de atividade que não a principal ou aquela que estás a pensar na altura.

VM: E qual é que é o valor mínimo que tens que ter para abrir uma empresa? Acho que é uma dúvida que também colocam muitas vezes.

IM: Em termos de capital, o valor mínimo com que tu podes abrir é 1 euro. Obviamente que isso não faz muito sentido porque tu tens sempre uma série de despesas associadas não só à criação da empresa como também ao facto da empresa existir ao longo do tempo. Ou seja, para criar a empresa à cabeça pagas logo 360 euros quando estás a abrir a empresa e esse dinheiro tem que estar disponível para ser feito o pagamento.

Depois com o decorrer da atividade, se tiveres conta bancária vais ter que pagar as despesas bancárias, ter que pagar a fornecedores… Há uma série de despesas recorrentes. No meu caso, escolhi abrir a empresa com capital social de 5 mil euros, mas isso vai muito de pessoa para pessoa e daquilo que eles esperam que venha a ser a atividade dentro da própria empresa.

VM: Estás a dar o exemplo de quem abre empresa sozinho. E quem abre empresa de sociedade também deve ter contrato sociedade?

IM: Sim. Aliás, mesmo eu tendo aberto uma empresa em nome de uma empresa unipessoal, tive que escolher um pacto social. Tal como disse que na Internet existe uma listagem de nome que podemos escolher para a empresa, também existem templates de pacto social, os mais normais, que podem ser escolhidos. Se for uma sociedade por quotas com mais do que um sócio, aí sim, já faz algum sentido, se calhar, envolver advogados para ficar bem definidas quais são as responsabilidades e o que é que é esperado de cada um dos sócios.

SC: Que outro tipo de pessoas é que nós temos que envolver na abertura da empresa? Porque há certos documentos das Finanças que têm que ser assinados e nós também temos que ter uma contabilidade organizada, por isso, que outros profissionais é que eu tenho que ter à minha volta para garantir que abro a empresa corretamente?

IM: É assim, obrigatório é definir quem vai ser o teu Técnico Oficial de Contas. Até porque tu tens que ter contabilidade organizada, ou seja, tem que ter uma pessoa que assine legalmente as contas e ter um sistema de faturação que seja certificado pela Autoridade Tributária. Isto para efeitos de abertura da empresa é aquilo que é obrigatório. Envolver a parte legal e envolver advogado já vai um bocadinho de cada pessoa, não é obrigatório, mas é aconselhável.

Por exemplo, eu e a Vera quando nos tornamos sócias da Shaeco, nós envolvemos advogados porque fazia sentido definirmos responsabilidades, falarmos de valores e convinha ficar tudo escrito em papel. Até quando entrou depois um novo sócio também foi exatamente a mesma coisa. Aliás, muito dessa transição de dois para três sócios na Shaeco foi feito inteiramente por um advogado.

SC: Também tenho aqui outra questão que é a questão de tempo, porque nós nos negócios online queremos tudo para ontem e pensamos que em todos os aspetos de ter um negócio online existe rapidez. Mais ou menos quanto tempo estes processos mais burocráticos e de finanças demoraram até realmente conseguires a tua empresa aberta?

IM: Eu diria que entre uma e duas semanas fica tudo pronto. Ou seja, tu consegues criar a empresa na hora, só que depois há uma série de coisas que tens que fazer. Fazer inscrição da empresa na Segurança Social, abrir uma conta bancária, fazer o depósito de capital social… Há uma série de passos que têm que ser dados depois da empresa estar legalmente aberta até poderes começar a tua atividade. Mas é um processo relativamente simples e rápido, diria eu, já não é aquela coisa que tens que ir não sei quantas vezes às Finanças para tratar a documentação. É uma coisa muito rápida hoje em dia.

SC: Eu confesso que estas partes mais burocráticas tenho dificuldade em entendê-las. Queria também aproveitar para perguntar outra coisa que é: nós temos isto tudo planeado para estarmos a abrir empresa, mas chega o dia em que nós realmente vamos abrir a empresa e nesse dia, o que é que é importante nós termos em mente e não nos esquecermos de termos connosco para garantirmos que o processo fica concluído?

IM: Se tu fores abrir uma empresa em que és o único sócio, a nível de documentação o que tu tens de levar é o teu cartão de cidadão. Com isso, tu consegues fazer tudo o que é necessário para a abertura da empresa. Caso seja uma empresa com mais do que um sócio ou cada um dos sócios está presente fisicamente e cada um deles leva o seu documento de identificação ou então o sócio que não estará presente tem que passar uma declaração a dar autorização para outra pessoa fazer a sua representação no momento da criação da empresa.

SC: Em relação aos custos, como disseste, vamos ter uma série de coisas que vamos ter que pagar. Podes elaborar um bocadinho quais são essas coisas que nós vamos ter que pagar?

IM: Só para abrir a empresa, se for uma coisa standard sem nada de muito específico, são 360 euros. É o valor que está neste momento em vigor, nunca se sabe se depois vai aumentar ou não, mas só à cabeça são 360 euros. Também de referir que, mesmo depois de abrires a empresa, caso queiras fazer alguma alteração, por exemplo, se quiseres mudar a sede fiscal da empresa, esse valor vai ter que ser novamente pago. Ou seja, não é só na abertura, mas qualquer alteração em termos de registo dos dados da empresa implica custos adicionais.

VM: Eu gostava de avançar um bocadinho mais aqui na questão a seguir. Depois de nós termos a empresa aberta, o nosso objetivo também é começar a faturar o mais cedo possível e começarmos a rentabilizar o investimento que fizemos na empresa. Por exemplo, se pensasse aqui num rácio de eu tenho que investir e tenho que ter a minha empresa com dinheiro para investir durante 12 meses, qual é que seria o rácio que utilizarias? Dirias que tenho que ter 100% para 12 meses ou tenho que ter 80% do meu plano de negócios para 12 meses, qual é que seria a recomendação que farias às pessoas que estão a abrir o seu negócio?

IM: Eu não diria tanto. Não diria que tu tens que ter no momento da criação da empresa dinheiro suficiente para 12 meses até porque em princípio a empresa vai começar a ter atividade e vai começar a faturar e a gerar dinheiro. Assim, tu consegues gerir tudo o que são as tuas responsabilidades a nível da operação da empresa, pagar salários, comprar stock, pagar aos fornecedores, etc.

Eu como sou uma pessoa muito aberta ao risco, gosto de ter sempre algo que me permita fazer face a emergências, por exemplo, se acontecesse alguma coisa, se eu deixasse de faturar… ter sempre um valor que me permite sobreviver pelo menos dois ou três meses de operação normal em termos de responsabilidade, não em termos de faturação. Ou seja, ter sempre esse valor reservado. Obviamente que muitas vezes não é possível e aquilo que é importante saber ou tentar analisar é que responsabilidades é que eu vou conseguir assumir com o nível de faturação e recebimento dos clientes que eu estou a ter.

VM: E aí surge a questão da conciliação bancária, não é? É uma coisa que eu acho que muita gente se esquece de fazer e que acaba por ser uma dor. O que recomendas a esse nível?

IM: Vou tentar explicar o que é e o porquê de ser tão importante. Basicamente o que é uma conciliação bancária? Nós temos o nosso saldo do banco e hoje em dia eu diria que 95% das transações de uma empresa passam por uma conta bancária. A reconciliação bancária o que é que faz? Faz a comparação de todos os movimentos que nós temos no extrato do nosso banco com aquilo que está contabilizado no software de contabilidade. E o software de contabilidade tem não só a parte de faturação a esses clientes, mas pode também ter em contabilidade tudo o que faturas de compras e pagamentos a fornecedores.

Basicamente é um match entre aquilo que o banco diz que eu tenho a nível de movimento e aquilo que a minha contabilidade diz que eu tenho a nível de também movimentos contabilísticos. E do meu ponto de vista porque é que isto é muito importante? Porque, bem ou mal, a reconciliação bancária como é um espelho da tua faturação e dos teus custos com fornecedores, ela acaba por ter tudo o que é o resumo das transações da empresa.

Imaginemos, por exemplo, que nós por algum motivo recebemos de um cliente um valor e esquecemo-nos de faturar – em princípio não deve acontecer, mas pode ter acontecido – ou seja, falta faturação na tua contabilidade. Ou pagamos a um fornecedor e por algum motivo esquecemo-nos de contabilizar a fatura do fornecedor, faltam-nos custos na nossa contabilidade. O que vai implicar é que quando utilizas a informação que sai da contabilidade para fazer análises financeiras, essa informação não vai estar completa. Fazendo a reconciliação bancária, consegues assegurar que tanto a tua parte de faturação e de proveitos como a tua parte de custos estão todas bem contabilizadas e consegues ter uma informação financeira completa que permita fazer análises e tomar decisões.

VM: E então quais são os custos mensais que as pessoas têm que ter em consideração quando abrem a sua loja online? Porque a reconciliação bancária também serve para nós vermos alguns custos que são menos transparentes como as comissões bancárias e esse tipo de coisas.

IM: A nível de custos físicos vai depender também um bocadinho do tipo de atividade que tens, mas aqueles que eu diria que vais ter sempre ou quase sempre: despesas bancárias vão aparecer, porque tens uma conta bancária aberta vão cair despesas bancárias; como é obrigatório também nomear um Técnico Oficial de Contas, se não for uma pessoa interna que vais ter que pagar salários, vai ter a despesa mensal com a contabilidade e se tiveres pessoas a trabalhar contigo, os custos com salários também vão aparecer.

O que é que vais ter mais o nível de custos? Se estiveres numa empresa que faz venda de produto ou tem os custos associados à compra de matéria prima para produção ou até mesmo a compra do produto em si, água, luz, renda, essas coisas mais básicas e mais associadas ao fato de ter uma empresa aberta.

SC: Eu queria aproveitar para fazer uma questão precedida de uma pequena história. Eu tive um familiar meu que esteve a fazer uma formação profissional e ele optou por fazer marketing digital e tinha um módulo de e-commerce. Sendo que o professor começou o módulo de e-commerce por dizer que “uma das principais vantagens é que no e-commerce não pagas impostos” e ele ficou tão escandalizado que telefonou no final da aula. Nós pagamos impostos, podes falar um pouquinho disso?

IM: Independentemente de ser e-commerce ou de ser um negócio físico, tu pagas impostos. A partir do momento em que tens uma empresa criada, tens logo o imposto associado. E também o imposto que é mensal, o IVA, ou seja, tu emites uma fatura, fazes liquidação de IVA, compras a fornecedores, as faturas dos fornecedores vêm com IVA. Portanto, há sempre uma série de impostos associados ao facto de estares a desenvolver a tua atividade através de uma empresa. Obviamente se se trata de uma empresa criada que está legalizada vai ter impostos associados.

VM: Na verdade, nós falamos de custos fixos, mas eu também gostava de falar dos variáveis. No e-commerce temos custos variáveis com transportadoras, com métodos de pagamento e outros. O que achas que devemos ter em consideração quando estamos a analisar ou quando estamos a olhar para os nossos números mensalmente no que diz respeito às variáveis também?

IM: Eu acho que antes de olhar para os números mensais convém a priori fazer alguma análise, ou seja, ter uma visão global do que é que vai ser o teu negócio. Há custos que são variáveis, como disseste, principalmente quando estamos a falar de e-commerce: temos as transportadoras, as comissões que nós pagamos a nível de métodos de pagamento. Acaba por ser sempre uma percentagem das vendas. Portanto, convém quando pensas no teu negócio não fazer só uma análise de vendas vs o que o meu produto me custa ou aquilo que eu penso que vou gastar em marketing.

Convém teres uma visão global da coisa porque pode acontecer na tua cabeça que tenhas pensado no negócio, numa operação que para ti faz todo o sentido, mas depois quando tu vais juntar os números todos a operação deixa de ser viável e não gera o resultado suficiente para fazer sentido sequer abrir abrir uma empresa. E estamos a falar pôr num bolo não só os custos variáveis, como também os fixos. Ou seja, tu vais ter que ver qual é o custo do teu produto, aquilo que custa o transporte e logística, as comissões bancárias, o investimento em marketing, os gastos que tu vais ter com as pessoas estão a trabalhar contigo. Aqueles custos que nós falamos – eu chamo de custos gerais – a contabilidade, água, luz, renda, etc. Tudo isto tem que ser visto e analisado na globalidade para ao final do mês saber se a empresa está a gerar resultado ou não.

SC: Tu fazes essa análise, não é? E a pergunta que tu nos devolves sempre é “mas querem que eu faça isto com ou sem IVA?” Então a minha questão é como é que tu achas que deve ser feito, com ou sem IVA. E porquê?

IM: Se tiveres de olhar para o resultado da empresa, ou seja, a nível de demostração de resultados, os valores que lá estão são sempre sem IVA. Muitas vezes quando eu estou a falar com pessoas que não são financeiras e elas querem saber “mas quanto é que eu vendi? quanto são as minhas vendas?” Normalmente as pessoas em todas as plataformas que existem, o valor de vendas que lá está e de encomendas tem de ser sempre com o IVA por inteiro.

Na minha cabeça, eu tenho de passar de uma visão sempre financeira e contabilística e de controle de gestão, digamos assim, para uma visão mais comercial e penso sempre naquilo que as pessoas do outro lado estão a ver. Eu quando olho para números internamente a nível de demonstração de resultados, é sempre sem IVA. Mas, por exemplo, quando estou a fazer projeções ou análise de cash flow, necessidades de fundo de maneio e dinheiro, aí sim, já ponho valores com IVA. Porquê? Porque, mais uma vez, estamos a mexer com um valor que entra nos bancos, por exemplo, e nos bancos quando recebes o valor de uma venda, recebes o valor total, ou seja, o valor do produto mais o IVA.

Isto porquê? Porque, por exemplo, tu com o desenrolar da tua atividade, obviamente que vais ter que ao final de todos os meses ou três em três meses fornecer a tua declaração de IVA e vais ter que pagar ou então tens um valor um valor a receber em termos de IVA. Portanto, eu acho que depende um bocadinho do objetivo da análise que estás a fazer e também do público para que estás a falar.

VM: Eu acho que também podemos falar aqui de outras coisas que são importantes, nomeadamente em relação ao IVA. Nós quando vendemos, quando temos vendas intra comunitárias entre empresas, as faturas são emitidas sem IVA e isso também é importante compreender.

IM: Normalmente, quando isso acontece, convém sempre verificar antes de emitir a fatura se a empresa está listada no site do VIES.

VM: Exatamente, é fundamental. E se não for emitida sem IVA, depois tem que ser feito aqui ou pedir porque há empresas que efetivamente não trabalham dessa forma, não têm capacidade e só emitem ao consumidor final. Portanto, depois tem que se fazer aqui um encontro de contas com o nosso IVA em Portugal.

Mas há aqui um outro tema, que eu adoro, que é aquele formulário das Finanças. É o formulário RFI que basicamente é exigido a todos os serviços que nós adquirimos fora de Portugal. Há muita dúvida em relação a isso, o próprio Facebook, o próprio Google também devemos exigir esses formulários da parte deles porque a nossa contabilidade assim o pede e as nossas finanças assim o pede.

IM: A lógica é caso tu estejas a adquirir um serviço (neste caso só serviços e não produtos físicos), ou seja, se fizeres a aquisição de um serviço de uma empresa que não esteja sediada em Portugal, para evitar a dupla tributação de impostos é pedido um documento que comprove que a empresa não está registada em Portugal. E o que é que dizem aqui internamente? Que se esse documento não for apresentado quando nós fazemos o pagamento do serviço ao fornecedor que devemos derreter do nosso lado 25% do valor da fatura.

Hoje em dia, muitas vezes, esses pagamentos já saem automaticamente via cartão de crédito. Nós pensamos no Facebook e Google, as faturas são emitidas todos os meses, mas o pagamento já foi feito automaticamente com cartão de crédito. Nem sequer há possibilidade de mesmo nós querendo fazer uma retenção de 25% do valor da fatura. E imaginemos que o fizéssemos, estamos a falar de empresas gigantes em que nem sequer se põe a questão da possibilidade de nós retermos aqui 25% do valor da fatura. Não faz sentido. Enquanto operação, operacionalmente, toda essa documentação que é exigida não faz muito sentido. E mais do que isso, é extremamente difícil de conseguir obtê-la principalmente com estas empresas grandes, porque eles simplesmente não percebem o porquê de nós estarmos a isto, porque nenhum outro país lhes pede este tipo de documentos.

VM: Pois e a verdade é que até hoje pode não ter acontecido nada. No nosso caso, nunca nos aconteceu nada, mas não sabemos o futuro. Supostamente isto deveria ser uma norma pelo menos europeia, devia ser transversal a todos os países da comunidade europeia, mas até hoje vemos as coisas assim de uma forma um pouco estranha.

IM: E nós felizmente já conseguimos ter algum desses modelos RFI também para nos precaver do nosso lado, porque nós sabemos que essas empresas não estão registadas cá em Portugal, mas é mesmo ter a documentação do nosso lado para provar isso. Nunca nos aconteceu, mas podem haver inspeções para ver se nós temos a documentação toda em dia.

VM: Claro e para ver se estamos a pagar corretamente os impostos, porque é isso que interessa no final do dia: é se estamos a pagar ou não os nossos impostos. Algum alerta ou alguma recomendação que gostarias de deixar às pessoas que estão a pensar abrir uma loja online, ou mudar de prestador de serviços para ter uma loja online, ou mudar de recibos verdes para ter uma empresa? Alguma coisa que achas que as pessoas devem ter em consideração?

IM: Sim. Falando do facto de eu ter aberto uma empresa – ela praticamente não tem atividade neste momento – mas existem alguns custos anuais que é preciso ter em consideração. Não são coisas muito elevadas, mas são coisas que todos os anos vão acontecer. Por exemplo, quando tu fazes o depósito das tuas contas anuais esse valor tem que ser pago. O facto de teres comissões bancárias associadas à tua conta bancária todos os meses também é um custo está lá e que tem que ser tido em consideração.

Para empresas com atividade, eu diria que é muito importante ter na cabeça os prazos legais de submissão dos impostos associados. Por exemplo, qual é o prazo legal de submissão das declarações de IVA, para submissão e para pagamento. Tudo o que é pagamento, as datas limite de pagamentos da Segurança Social e do IRS, ter sempre essas datas na cabeça. No meu caso, aquilo que eu faço é ter mesmo alertas nos dias antes para me lembrar que há datas limite para pagamento. Porque passando mesmo um dia ou dois vais pagar multas pelo facto de estar atrasado com o cumprimento dessas obrigações. Portanto ter essas coisinhas na cabeça ou então ter uma empresa externa, por exemplo, a contabilidade que faça o apuramento dessas declarações e que tenham essas datas em mente.

VM: Só mais uma última pergunta. Uma coisa que me perguntam muitas vezes – e tu vais dizer que depende do plano de negócios – mas acho que é uma coisa importante de perguntar: em quanto tempo é que eu espero ter rentabilidade do meu negócio?

Os negócios não são todos iguais, mas tendo em consideração que é necessário investir também em marketing, recursos humanos, etc. De acordo com a experiência que já tens, porque a Shaeco não é a tua primeira experiência em e-commerce. Quanto é que tu achas que seria o tempo mínimo para uma pessoa esperar tirar rentabilidade do negócio.

IM: Mínimo eu diria dois anos. Já trabalhei numa empresa que foi uma startup, então entrei praticamente no início, estive lá dois anos e nesses dois anos a empresa não teve resultados e não era expectável naquele caso específico. Não era espectável ter resultados nos próximos três anos. Estávamos a falar de cinco anos em que a empresa não ia ter resultados positivos.

Por isso é que estou a dizer dois anos no mínimo dos mínimos. Isto porquê? Porque o teu investimento inicial é muito elevado. Tu tens não só os cursos de criação da empresa, mas podes ter os custos de desenvolvimento da plataforma, custos associados a fazer crescer a marca e aumentar a notoriedade. Na fase inicial da empresa, em termos de percentagem de vendas, é um investimento muito elevado, porque o negócio ainda não escalou para um ponto em que faça face a esses custos iniciais de constituição.

SC: Quais são as ferramentas que tu recomendas? Sei que há vários softwares e há várias opções, mas nem todas funcionam da mesma maneira. Por isso, o que é que tu recomendavas que os nossos participantes e ouvintes adotassem nos seus negócios online?

IM: Mais do que dizer o nome de um software, o mais importante é teres um software que se adapta às tuas necessidades e que faça sentido. Não tanto na TSE, mas na Shaeco, quando entrei para a empresa uma das coisas que foi discutida foi tentar automatizar ao máximo as integrações entre a loja online que é um software completamente separado do que nós temos de ERP. Mas tentar ao máximo ter as coisas integradas e automatizadas. Para evitar movimentos manuais que hoje em dia já não fazem muito sentido.

Obviamente que tens aqueles softwares mais conhecidos e que as empresas maiores utilizam, mas aí estamos a falar de investimentos muita avultados e que para um negócio novo poderá não fazer sentido. Mas hoje em dia já há coisas que são acessíveis em termos de custo e que dão resposta às tuas necessidades. Escalando o negócio, depois podes também optar por ou melhorar a versão que estás a utilizar do software que tens ou até mesmo fazer uma mudança de software.

A minha experiência pessoal é que tu não escolhas uma coisa muito simples que não te permite escalar no futuro. É se calhar preferível no início tu optares por um software que dê resposta às necessidades que tens no momento, mas que permita também fazer a escalada do negócio e da atividade.

Mais do que isso, mais uma vez repito, tentar automatizar as coisas. Ou seja, tudo o que seja possível fazer com a integração ou integrações automáticas e evitar movimentos manuais é uma coisa a apostar.

No nosso caso, nós utilizamos o SAGE. Não havia uma integração direta com a nossa loja online, mas nós depois pedimos para serem desenvolvidas integrações que passassem automaticamente de um lado para o outro.