Ecommerce à Quarta – Edição #21 – Quanto custa abrir uma loja online?
Afinal, quais são as despesas que lançar uma loja online acarreta? No episódio de hoje, a Vera e a Sónia estiveram a abordar custos relacionados com produto e stock, plataforma, transportes, marketing digital, equipa, entre outros.
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Sónia Costa (SC): Olá a todos! Bem-vindos a mais um ecommerce à quarta. Então, vamos aqui lançar o tema que vamos debater hoje, que é um tema que consideramos que continua a ser importante devido a algumas más interpretações que ainda possam existir.
Quanto é que custa, afinal, criar uma loja online? Nós estivemos aqui a ver algumas pesquisas e há muita gente que tenta procurar como fazer uma loja online de forma gratuita e nós queremos já deixar bem claro que fazer uma loja online não é grátis. Vera, não sei se queres lançar o primeiro custo da criação de uma loja online assim que te recordes? São muitos…
Vera Maia (VM): Sim, efetivamente existem vários. E não custar nada acho das coisas mais difíceis, por muito que “vendam” isso por aí, essa ideia de não custar nada e só termos de usar uma plataforma dessas gratuitas e começarmos a pôr lá as nossas imagens e até podemos ir buscar imagens de dropshipping e usa-las. Sim, é possível fazer isso tudo. No entanto, mais do que quanto custa. é se eu quero ou não ter real sucesso com este projeto. Portanto, custo também temos que considerar o nosso custo homem/hora. Quer dizer, nada na vida custa zero se nos estiver a custar tempo da nossa vida.
Portanto, o primeiro disclaimer é esse. Podem fazer tudo de forma manual, o mais rápido possível, copiando e ir buscar, mas isso não significa sucesso. Isso não significa não custar nada. Agora, para quem quer entrar nisto de uma forma séria, para quem quer ter uma loja online na qual vai realmente ter crescimento e sucesso, a primeira coisa que tem que saber é o que vai vender.
Isso vai ter algum custo em termos de produção de conteúdo, em termos de fotografias, em termos de vídeos, textos para a criação da própria loja. Portanto, antes de partir para aquela ideia de eu vou já para um Shopify ou um WordPress ou vou já decidir qual é a tecnologia que vou usar. Primeiro, é saber o que é que eu vou vender e dentro do que eu vou vender é que conteúdo é que eu preciso para efetivamente vender? Que informação é que eu vou precisar de construir, de criar, de pagar alguém para fazer, para conseguir dar os primeiros passos naquilo que são depois as vendas de uma loja online?
SC: Queria aproveitar para fazer aqui já o lançamento de outro custo. Ou seja, considerando que não estamos a falar de um modelo de dropshipping, se nós tivermos a nossa loja online em que vamos vender algo. Esse algo, nós necessitamos de ter um stock, não é? Isso também é um custo. Ou seja, muitas vezes, quando estamos a começar do zero, a decisão de que stock é que vamos adquirir ou mandar produzir é logo um custo à partida que tem que ser muito bem pensado, porque senão podemos estar a dar um passo maior do que do que a nossa perna.
VM: Sim, e muitas vezes só se olha para o custo de produção e esquece-se a embalagem, esquece-se a necessidade de trabalho. Um exemplo que nós damos sempre é o da Shaeco, nós não temos só o produto que já vem embalado internamente, nós temos uma caixa externa que nós temos que comprar e depois temos que embalar os produtos, depois ainda temos a caixa de transporte, que pode fazer parte do custo logístico, mas tem que ser considerado numa fase em que estamos aqui a enviar.
Podemos voltar ao assunto anterior, que é “mas eu posso fazer isso com dropshipping e não ter esses custos” Podes, no entanto, a margem que vai ser libertada vai ser muito pequenina e pode não ser suficiente para depois conseguires fazer crescer o negócio. Porque se tu não tens stock e não tens obrigatoriedade de stock, vais ter que lutar contra outros concorrentes que vendem o mesmo que tu, que não tem qualquer diferenciação e muitos deles que têm stock e fazem chegar mais rápido ao cliente e, portanto, o cliente pode escolher comprar noutro sítio onde tem mais vantagens.
Por isso, é muito importante pensar efetivamente o stock e qual é que é a nossa estratégia ao nível da embalagem, de eventuais conteúdos que vão dentro da embalagem, coisas que nós queremos oferecer, por exemplo. Tudo isso tem que ser considerado
SC: Sim, e tudo isso são custos. Nós temos então o nosso produto, temos o nosso stock e depois também há outra coisa que custa bastante dinheiro, é necessário um grande investimento e que muitas vezes também é tido como grátis ou pouco caro e, se calhar, já foi mais barato do que é agora, que é o marketing que temos que fazer para vender.
Ou seja, eu apercebo-me que ainda existem algumas pessoas que consideram que basta ter a loja online e que de alguma forma ela vai gerando vendas. Isto não poderia estar mais longe da verdade, ou seja, só nós só tivermos a loja online e não tivermos investido em captação de leads, se não tivermos um planeamento de marketing digital minimamente pensado para a promover, se não tivermos algum orçamento para campanhas… Na verdade, ninguém vai cair na nossa loja online por acaso e começar a comprar, não é? Portanto, há aqui este custo de promoção e que se calhar até já foi mais barato do que agora e com mais resultados do que tem agora.
VM: Sim, e depende da estratégia e dos objetivos. Acho que, acima de tudo, depende dos objetivos. Se o teu objetivo é investir o mínimo possível, então a tua estratégia tem que passar por muito trabalho de engagment, muito trabalho de marca pessoal juntamente com a loja online, muito trabalho passinho a passinho. Mas a maior parte das pessoas nem tem paciência para esperar esse tempo todo, nem tem capacidade de produzir tudo aquilo que é necessário ou de fazer o teste, a tentativa, porque o caminho é demorado, é um caminho longo. Nós falamos muitas vezes da maratona, estamos sempre a dizer que a loja online é uma maratona, não é um sprint.
Pode ter vários sprints ao longo do tempo para conseguirmos acelerar, mas vai ser uma maratona, nós vamos ter que ir correndo a determinado passo e ir medindo os nossos resultados ao longo disso. Se eu quero chegar lá mais rápido, eu também consigo chegar mais rápido, tenho é que investir mais e tenho que estar disposto a investir.
E não é só as lojas online, mas a maior parte dos negócios: os primeiros três anos não são anos de rentabilidade. Muitas vezes até são anos de prejuízo. Muitos poucos negócios conseguem rentabilidade rápida, porque é preciso sempre um investimento, é preciso sempre esperar pelo retorno, tentativa e erro e, muitas vezes, até mudar rapidamente a nossa estratégia.
E neste sentido, também queria falar então da própria loja online, porque a maior parte das pessoas pensa que é só a tecnologia, é o site…E isso é errado. Primeiro, temos de pensar na estratégia, quem é o meu cliente, o que é que eu vou vender, que tipo de conteúdos é que eu vou produzir. Isso tem que estar em primeiro lugar, porque a loja online é uma resposta a tudo isto, vai dar resposta às minhas necessidades. Não falando em caderno de encargos, que se calhar já é para negócios que já estão um bocadinho além, já estão numa fase de desenvolvimento ou já tem lojas físicas e querem fazer crescer o negócio.
Falando em necessidades que a minha loja online tem que cumprir, quais são estas necessidades? Como é que eu vou pôr o meu produto à venda? Como é que eu cumpro com as regras de usabilidade para que a loja converta? Como é que eu capto emails de clientes? Quais são os call to actions que eu coloco na loja, ou seja, os botões e em que momento os coloco? Qual é a experiência em telemóvel? Como é que eu vou gerir esta base de dados? Eu vou angariar emails, mas depois vou deixar ali parados? Como é que eu vou comunicar com estas pessoas?
Tudo isto é extremamente importante para conseguir decidir que tecnologia que eu vou usar. Hoje em dia fala-se em muitas, em WordPress, em Shopify. Há quem esteja até a usar coisas que se calhar nós até não recomendaríamos, mas que são normalmente plataformas mais para criação de sites e não de lojas online. Mas o mais importante é perceber que vai haver uma transação. Como é que eu recebo dinheiro? Como é que eu preparo as minhas encomendas? Como é que eu faço a gestão dos meus stocks? Como é que eu emito as minhas faturas? E depois como é que a experiência do cliente ao longo de toda a loja? Eu posso ter uma loja super bonita, mas que não funciona simplesmente porque a tecnologia não era a certa, o design não o certo, tudo isso.
Portanto, quanto é que custa agora assim em termos de dinheiro ter uma loja online? Pode custar a 30 € por mês, pode custar 2.000 €, 3.000 €, 5.000, 20.000 €, 100.000 €. Tudo vai depender da fase em que está o vosso negócio e das necessidades que ele tem. Acima de tudo, é isso.
Primeiro, não comprem um Ferrari se não tiverem um piloto para o pilotar. Não vale a pena ter uma loja espetacular, com uma tecnologia brutal se depois eu não tenho quem consiga gerir as coisas, quem consiga aproveitar toda a plataforma em si. Mas também não posso querer ter um gigante em pés de barro e não posso querer ter uma loja online a faturar milhões de euros em Wix. E peço desculpa se alguém tem loja em Wix e se a Wix promove isso, mas a verdade é que não vai acontecer. Por isso, é tudo uma questão de encontrarmos o equilíbrio certo no momento certo para nós.
SC: Sim, até porque isso bate muitas vezes também com o posicionamento que a marca possa querer ter. E nós também já trabalhamos com uma marca que, por exemplo, ambicionava um posicionamento mais premium, mas depois a loja online que tinha sido adquirida, como estava montada, o design que tinha, as possibilidades que oferecia ao utilizador… Se realmente o público alvo fosse mais premium, chegava ali e via que uma coisa não condizia com a outra. Ou seja, também temos que ter a noção se estamos a tentar chegar a um cliente com outro nível e alto poder de compra, ele também está habituado a comprar em sites com outro tipo de funcionalidade e de design. Às vezes, até mesmo este ponto é fundamental. A minha loja tem que refletir aquilo que eu quero que a minha marca seja. E realmente quando eu atraio o utilizador para dentro da loja online, depois a experiência que lhe dou tem que ser coincidente com o que ele está habituado.
Aproveitava também aquilo que estavas a falar do piloto para lançar aqui outro custo de ter uma loja online que é a nossa equipa. Ou seja, nós podemos, de facto, numa fase inicial, sermos um empreendedor em que o empreendedor começa e faz tudo sozinho e tem que fazer tudo numa fase inicial. Mas se não tivermos então uma equipa, começarmos a construir uma equipa dedicada ao crescimento da loja online, chega a um ponto em que o empreendedor só tem duas mãos e uma cabeça e não pode estar em todo o lado. O empreendedor tem que conseguir sair de cena e garantir que fica alguém a gerir.
Portanto, tirando o piloto, chamamos-lhe o nosso ecommerce manager, nós também costumamos dizer que é muito importante numa fase inicial, uma das primeiras contratações importantes será o apoio ao cliente. Eu digo isto muitas vezes, já ouvi dizer isto há muitos anos, mas eu gosto de sempre repetir: quando começam as vendas, começam os problemas. Ou seja, a minha encomenda não chegou, itso não foi o que eu encomendei… Por isso, temos que ter alguém dedicado a resolver estas questões. Mas existem outras funções também muito importantes a ter numa loja online que devemos ir com o tempo. Ou seja, a loja online não vai começar logo a contratar 15 pessoas, como é óbvio, tem que ser uma coisa pequenina, mas lá está, depois do empreendedor, o apoio ao cliente, vamos necessitar também de alguém que entenda de marketing digital, que possa escrever conteúdo, precisamos também de muito design. Temos que ter algum designer que saiba trabalhar as imagens, editar as imagens, fazer montagens, fazer composições, cortá-las para os diversos formatos…
Portanto, já começamos a ter aqui vários elementos da equipa e depois temos também que ter alguém dedicado à expedição das encomendas. Podemos também ter um fotógrafo…
VM: Sim, a produção e edição de conteúdos, podemos ter dentro de portas ou não. Depende também da nossa capacidade de sermos rápidos ou não depois a trabalhar com esses parceiros.
Eu queria acrescentar, em relação ao que estavas a dizer da equipa, que todos estes recursos podem ser internos ou externos, mas nós temos que os ver sempre como elementos da equipa. Que é para o investimento que fazemos e a forma como trabalhamos com quem está do outro lado e as próprias energias que nós passarmos uns aos outros, tem que ser uma energia de equipa. Se não houver esse espírito de equipa, nós não vamos conseguir fazer crescer o negócio, seja dentro ou fora.
SC: Sim, mas lá está, seja um recurso interno, ou seja uma agência ou seja um freelancers, vai custar dinheiro ao empreendedor, vai custar dinheiro à loja online. Não é algo que apareça sem termos este esforço de contratar pessoas. Penso que não me esqueci de ninguém em termos de equipa.
Aproveitava para lançar aqui outro custo de ter uma loja online que são os transportes. Alguém fez uma compra, tem de receber a encomenda. E como nós sabemos, os transportes podem ser muito complicados de gerir em termos de custos, sobretudo numa fase inicial.
VM: Sim, nós temos visto que a maior questão que surge em qualquer negócio, negócios de 100.000 € anuais, negócios de 2 milhões de euros anuais, é eu estou a perder dinheiro com a logística. Isto aparece constantemente e aparece por vários motivos. Um dos motivos é porque muitas entidades estão a definir um valor médio por encomenda e estão a atribuir esse valor médio a todas as transações. E claro que numas encomendas vai ser mais, noutras vai ser menos, por isso, nunca vai dar lucro. Tem a ver, muitas vezes, com uma questão contabilística e financeira também, mais principalmente contabilística.
Por outro lado, efetivamente, muitos negócios olham para o custo de envio de uma forma errada. Não consideram corretamente ou na sua margem ou na forma como calculam. E há muitas variáveis diferentes. O aumento do custo de transporte existiu e está a existir, está a subir cada vez mais e as marcas não estão a conseguir balancear a sua margem com o custo de transporte. E depois, quando imputamos 100% ao cliente, o cliente também não fica satisfeito e muitas vezes não volta a comprar.
Por isso, embora seja um custo variável, é importante nós fazermos as contas antes. Nós sabermos efetivamente o que é que eu preciso que a minha transportadora faça. Em termos de qual é o peso, qual é o volume, quantos envios são, quais são os seguros que tenho de ter associados. Porque se for um produto que possa quebrar durante o transporte, isso vai ter um custo para mim, mas se calhar é um custo que eu tenho que imputar ao cliente, que eu tenho que colocar no preço final para que o cliente pague esse custo. Ou na nossa margem ou no cliente, tem que haver esse custo efetivamente.
Portanto, mais uma vez repito, embora seja um custo variável, pode ser um peso muito grande no meu negócio e pode invalidar o meu negócio no futuro. Devemos fazer essa análise prévia.
SC: Sim, sobretudo em negócios que estão a começar e ainda não temos um histórico, vamos ter que dizer o que é que nós projetamos que vão ser as nossas vendas e os nossos envios. E as transportadoras também trabalham com tabelas. Eu também acho que há um bocadinho de desconhecimento de como é que as transportadoras trabalham. Elas trabalham com tabelas e isto é injusto, não é? A pequenina loja online, que tem poucos envios, vai ter uma tabela mais cara. A loja online grande, que faz milhares de envios, vai ter uma tabela mais barata. Não é justo, mas quem faz muitos envios se calhar podia pagar mais, mas não, vai pagar menos exatamente porque faz muitos. Quem não faz nenhuns vai ter a pior tabela de todas e vai pagar mais.
Então, como é que as transportadoras fazem? Nós dizemos a nossa projeção de vendas e eles trabalham connosco uma tabela melhor. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que depois nós temos que cumprir com aquela projeção que nós fizemos. Então, se nós não cumprimos com esta projeção, vamos ser penalizados na tabela. Estamos numa tabela boa e vamos aqui descer uns patamares. E depois, muito importante, todos os anos há o ajuste da tabela. Por isso, mesmo que a minha tabela seja boa, eu todos os anos, no final do ano, vou receber aquela notificação que os preços vão ser atualizados e os transportes estão sempre a ser atualizados. E, como disseste, pode invalidar completamente o negócio, porque vou ficar completamente sem o dinheiro que estava a prever.
E, pior ainda, a questão das devoluções, porque nós temos que ter os seguros, temos que ter cuidado se os nossos produtos se podem danificar de alguma forma. E também como é que vão as coisas dentro da embalagem para garantir que chegam corretamente ao destinatário. Porque se nós sabemos que os nossos utilizadores odeiam pagar portes de entrega, eles odeiam ainda mais pagar devoluções. E ainda existem muitas lojas online que não oferecem devoluções gratuitas, por isso, se eu tiver que devolver eu tenho de pagar. Isso pode ser logo um fator de evitar comprar naquela loja online.
Por outro lado, quando o cliente quer devolver, se a loja online oferecer as devoluções gratuitas, quer dizer que são gratuitas para o cliente e é a loja online que os está a pagar. Por isso, não só lhe custou enviar como agora lhe vai custar devolver ou trocar. Realmente temos aqui nos transportes algo que tem que ser muito bem estudado, porque há muitas nuances que podem acontecer.
Já para não falar, por exemplo, nas tentativas de entrega. Nós sabemos que muitas vezes as pessoas dão moradas e depois não está lá ninguém para receber. Os estafetas fazem uma segunda entrega gratuita para o cliente. Então quem é que está a pagar? É a loja online. Então, de repente, às vezes temos uma venda que teve que ser entregue duas vezes e depois ainda pode gerar uma devolução. Então só estão a ver aqui, em termos de transporte, o que é que uma venda nos resultou em termos de perdermos dinheiro? É complicado.
VM: Sim, e outra coisa ainda em relação a custos variáveis, temos também os métodos de pagamento. Nos métodos de pagamento também é importante nós vermos efetivamente quanto é que vamos pagar por transação e dependendo do tipo de produto que nós vendemos. Se nós vendemos produtos de larga escala, mas com margens curtas é mais vantajoso negociarmos até com o nosso banco, podemos ter aqui alguma rentabilidade maior a esse nível. Se nós tivermos margens mais alargadas e queremos a implementação mais rápida, podemos ir buscar parceiros internacionais que conseguem dar aqui preços bastante interessantes e variedade de métodos de pagamento por uma taxa fixa, uma percentagem que é fixa na nossa encomenda.
Eu acho que no online existe um mito que as pessoas só compram pela oportunidade, pelo desconto, pelo preço. Então, naturalmente, muita gente define o preço do produto com base nessa premissa de haver desconto, de ser um desconto direto, de vender o preço mais baixo possível, até colocam um valor de venda a 150 €, mas depois vendem a 75 €. Muito bem, mas às vezes nós esmagamos, esmagamos, esmagamos e depois não vamos ser capazes de pagar as taxas, não vamos ser capazes de pagar os transportes e não estamos a educar o nosso cliente e o mercado e a fazer com que o mercado cresça.
Por isso, é muito relevante nós fazermos um bom plano de negócios antes e garantir que estamos a ver tudo este big picture. Mesmo o empresário individual, o empreendedor, aquele que tem vontade de criar a sua loja online, de ir à luta e quer construir algo grandioso. É mesmo muito importante, nem que seja passar 2 ou 3 horas no papel a escrever o que é que vai precisar de ter para que a loja funcione. Não olhe só para aqueles 30 € por mês, ou 50 € por mês, ou 500 € por mês que seja para construir a loja. Olhe para tudo aquilo que precisa de construir efetivamente para que a loja funcione.
SC: Sim, lá está, em relação aos métodos de pagamento, que devem ser também adequados a cada país, isto levanta a questão de para onde é que a loja online quer vender online. Vender para o mundo todo não é fácil. Vender dentro da Comunidade Europeia é uma coisa, mesmo o custo do transporte nacional versus enviar para as nossas ilhas é outra. Depois há vários países também dentro da União Europeia que têm ilhas, por isso também temos que ter cuidado se enviamos para essas ilhas ou não. Se estamos a trabalhar com transportadoras que trabalham bem como certas áreas geográficas, como as nossas ilhas, por exemplo. Há umas que o fazem melhor que outras… E se eu vender para Espanha? Qual é a transportadora que entrega bem em Espanha e nas respetivas ilhas?
E se eu me puser a vender para todo o mundo, se eu tenho a certeza que tenho a documentação toda que faz as coisas não ficam presas na alfândega, etc, são tudo questões também que têm que ser analisadas à partida e mesmo o esforço de internacionalização não é assim tão fácil quanto isso. Porque todo aquele trabalho que temos que fazer de divulgação, também o temos que fazer lá fora. E também muitas vezes nós nos apercebemos que as pessoas não têm noção disto. Os custos de publicidade online em Portugal estão a aumentar, sem dúvida, mas nos outros países são muito mais elevados. Ou seja, Portugal ainda é um país para o qual é relativamente “barato” anunciar.
Se as pessoas quiserem entrar em mercados que são muito competitivos. E todos nós sabemos que no imaginário dos empreendedores existem sempre aqueles países muito apetecíveis como Reino Unido, Alemanha ou França. São geralmente estes os países que toda a gente ambiciona estar presente. São mercados extremamente competitivos e, portanto, a publicidade online muito mais cara, portanto temos aqui um custo que vai ser muito mais caro do que anunciar apenas para Portugal.
Nós ainda não referimos um custo que também tem a ver com o digital, que é o trabalho com influenciadores, quer seja um custo em termos de oferecermos produtos, isto aplica-se para influenciadores nacionais e internacionais, ou pode também exigir o pagamento de um fee e, portanto, o influenciador para produzir o conteúdo ou para fazer um post necessita de um pagamento. Ou até, se for, por exemplo, mediante códigos de desconto, pode até incluir o pagamento de uma comissão ao influenciador nas vendas que nós conseguimos monitorizar através da utilização do código do desconto.
Portanto, também ouvimos muito e fala-se muito sobre os influenciadores. Nós temos que lhes pagar, seja em produto, seja em dinheiro. Temos aqui mais um custo que a nossa loja online vai ter que ter em consideração.
VM: Sim, muitas pessoas acham que ao oferecer produtos não têm um custo, mas têm. Tem o custo do produto, tem o custo de transporte, tem o custo nem que seja o custo de produção, o preço de custo de cada produto, de cada embalagem. Mas existe aqui até um custo de oportunidade.
Atenção quando trabalhamos com influenciadores que tenham uma presença muito forte, pode correr muito bem e pode correr mal. O correr muito bem pode levar à loja online ir abaixo, os stocks esgotarem, a não sermos capazes de rapidamente repor aquele stock e de fazer chegar os produtos ao cliente, portanto, é muito importante o equilíbrio, é muito importante nós sabermos o que estamos a fazer em cada fase. Às vezes é melhor nós vendermos menos, porque vamos ter mais margem do que vender muito rapidamente e em que podemos perder margem e perder a rentabilidade do negócio. Isto é tudo uma questão de visão do próprio empreendedor, o objetivo que o próprio empreendedor tem.
Tanto trabalhamos com clientes que demoram dois anos a criar uma loja online porque fazem tudo muito devagarinho, de acordo com a estratégia deles, de acordo com aquilo que o negócio liberta e aquilo que é o crescimento do próprio negócio. Como vemos muita gente a querer acelerar muito rápido o seu negócio e tudo é legítimo, desde que saibamos que vamos ter que provavelmente queimar algum dinheiro para conseguir fazer isto mais rápido. É só uma questão de nós sabermos onde é que nós queremos estar e como é que queremos estar neste mercado do online.
SC: Quem pensa em influenciadores pensa sempre naqueles nomes gigantes e nós trabalhamos com muitos clientes e quando chega a parte dos influenciadores, todos gostavam de trabalhar com a A, B ou C e são sempre as mesmas pessoas. Eu acompanho uma influenciadora que é a Madalena Abecassis, e obviamente ela vende, ou seja, aquilo que ela coloca no seu Instagram, vende. Mas ela também tem essa capacidade de deitar lojas abaixo, que era o que estavas a dizer. Se calhar um custo que muitas vezes fica escondido que é do alojamento e dos servidores da nossa loja online.
Ou seja, se calhar quando estamos a pensar em loja online, não pensamos necessariamente neste pormenor, não é? Mas nós precisamos de rapidez de ligação, de rapidez de acesso à informação, de um alojamento adequado para a nossa loja online, incluindo a segurança, porque este tipo de investimento pode passar um bocadinho ao lado. Mas nós queremos comunicar e queremos que seja verdadeiro que a nossa loja online é um sítio seguro, porque obviamente uma compra online envolve métodos de pagamento e troca de informações, dados pessoais e, portanto, uma loja online quer-se segura e se calhar fala-se pouco sobre isto, mas o nosso alojamento, a loja ser rápida, aguentar com vários utilizadores online, sobretudo se estamos a fazer uma campanha com uma influenciadora ou vamos à televisão, por exemplo.
Vamos à televisão e temos de repente 200 pessoas ou 300 na loja online e ela vai abaixo. Portanto, aqui estamos a perder dinheiro duplamente. Tivemos um investimento na campanha e depois não conseguimos gerar nada, porque o fluxo de utilizadores deitou a loja online abaixo. São aqui vários pontos – a rapidez, o alojamento e a segurança – são muito importantes e que também são um custo na criação da nossa loja online.
VM: Eu queria complementar aí, se calhar pode ser mais fácil para quem está a criar uma loja online e a pensar crescer, com uma coisa que eu aprendi quando estava numa empresa multinacional de grande dimensão. Como é que normalmente se organiza este tipo de estratégia em termos de custos e de considerar qual é o custo que eu vou ter com a minha loja online. Divide-se aqui em dois níveis: o Capex e o OPEX.
Então, o CAPEX tem sempre a ver com o custo inicial, o custo que vai ter a tecnologia, a personalização de algumas ferramentas, a produção de conteúdos original, a compra de stock. Portanto, tudo o que tem a ver com vou preparar, vou começar e como é que eu tenho que começar. Depois, o custo OPEX, que é o custo operacional, é o custo que eu vou ter todos os meses ou todos os anos, o alojamento, desenvolvimentos da tecnologia, plug-ins, melhorias, contratos de manutenção com equipa tecnológica e depois os salários, a produção contínua de produtos e de stocks, a renovação de embalagens, a produção de conteúdos também contínua.
Portanto, se nós conseguirmos dividir em duas partes, vai ser mais fácil para quem vai começar e vai ser mais fácil dizer ok, então vou ter x orçamentos na fase inicial e depois vou investir x orçamento na continuidade do projeto, se calhar por ser mais simples em termos de organização também interna.
SC: Sim. A nossa partilha nunca é desencorajadora, antes pelo contrário, é mais criar uma dose de realidade naquilo que as pessoas têm na sua mente ao quererem lançar uma loja online. Ou seja, queremos que o façam da forma mais realista possível. Às vezes o barato sai caro.
VM: Sim e há momentos de viragem nos negócios. Há momentos em que nós dizemos “ok, eu quero começar já bem, porque eu quero automatizar o máximo possível” e há momentos de “eu não sei o que é que isto é” e há procura de informação ou procura de alguém que faça um check-up, que faça uma consultoria que analisa o meu negócio, o meu resultado… porque eu estou a vender, mas depois não tenho lucro, por exemplo, então tenho que compreender o que é que se passa.
Muitas vezes, esses momentos são, acima de tudo, investimento em automatização, em tecnologia, em processos. Há muitos negócios com os quais nós lidamos diariamente, até na nossa mentoria, que só não crescem porque lhe falta automação de processos. Não é porque não tenham capacidade, não é porque não é possível crescer, não é porque o mercado já se esgotou. que há muitos mitos. Há muita crença de que isto não é para mim. O meu negócio já não cresce.
O mais importante para realmente crescer rapidamente é investimento em tecnologia, investimento em processos e em formação de pessoas. Claro que não posso descurar todo o resto, não posso descurar o produto, não posso descurar a experiência cliente, nada disso. Mas se cada vez que eu aumento 100 vendas num dia, eu tiver que contratar mais uma pessoa, o meu negócio nunca vai ser rentável. O meu negócio de ecommerce é rentável se eu tiver menos pessoas e conseguir servir mais clientes. Porque se eu estiver, por exemplo, a receber encomendas via Facebook e Instagram pelo resto da vida, eu depois de responder a 50, vou ter que contratar mais uma pessoa e depois de responder a 100 vou ter que contratar mais uma pessoa e isso não tem automatização nenhuma, não tem crescimento nenhum por trás.
Eu conto novamente esta história que acho que já disse muitas vezes: uma vez tivemos um cliente que quando estávamos a falar sobre SEO, disse “isso dá muito trabalho”. Sim, vai dar muito trabalho. Sim, vamos ter que investir tempo, dinheiro, recursos. Se o fizermos de uma forma ajustada e associada ao crescimento que nós pretendemos ter, não ao crescimento que nós temos hoje, mas ao crescimento que nós pretendemos ter.
Há muitos negócios que só libertam efetivamente dinheiro depois de nós seguirmos aqui alguns caminhos para o crescimento. Mas se eu souber onde é que eu quero chegar, a automatização de processos tem que estar aí no meio. Não há forma de fazer sem isso, não há libertação de margem sem isso, não há crescimento sem isso. E nós não precisamos de ir muito rápido, nós precisamos é de ir de acordo com o passo certo que nós queremos dar e com o investimento certo que queremos fazer para o nosso negócio.
Também vejo outra coisa, muitas vezes, que é a desilusão. A desilusão do lado empreendedor que fez, empreendeu, investiu e que não teve retorno. E aqui deixo uma mensagem a todas as pessoas que estejam nessa situação. Às vezes, mais vale terminar, finalizar o projeto do que continuar a investir nele. Há momentos que podem não ser o certo para o nosso negócio. Há negócios que podem não crescer tão rapidamente como nós gostaríamos, nós temos que estar dispostos a fazer o que é necessário para que isso aconteça. Às vezes, o que é necessário para que isso aconteça é termos um part-time em algum sítio e continuarmos a fazer crescer a nossa loja ou é investirmos todo o retorno que temos nela para a construção de mais equipa, para aumentar a gama… Isso é que é o importante, é o mindset.
Acho que, no final disto tudo, é muito mais importante o mindset mais do que propriamente o hack que vamos fazer, aquela integração, aquele plugin que vamos usar… Esse tipo de decisões têm que ser tomadas com muito mais calma do que aquilo que eu vejo normalmente no mercado de trabalho.
SC: E eu queria aproveitar que disseste isso para também finalizar do meu lado com uma provocação, mas também com um cal to action. Uma das coisas muito importantes que referiste é a equipa e a formação contínua da equipa. A minha provocação é que na equipa inclui-se ou deve incluir toda a gente, incluindo quem está lá em cima e quem manda. Portanto, quem tem lojas online, por favor, invistam na formação da vossa equipa, porque a nossa área muda muito depressa e faz sentido que continuem a investir na formação dos vossos recursos. Como se costuma dizer, se eu invisto nos meus recursos, eles vão embora; muito pior é se não invisto e eles ficam. Portanto, invistam para vocês serem uma loja online na qual os vossos recursos querem evoluir e aprender.
E isto é o cal to action: invistam em formação, invistam em saber mais sobre a nossa área, apaixonem-se por esta área e ofereçam isso aos vossos colaboradores na vossa equipa. E a provocação é: venham vocês mesmos, porque muitas vezes nós sentimos que as pessoas que trabalham na loja online estão presentes na formação, estão a absorver o conhecimento, mas depois, no fundo, quem toma a decisão não fez neste investimento em conhecimento. Nós, no Tudo Sobre eCommerce, temos várias ferramentas que vos podem ajudar: a mentoria, a consultoria, cursos, formações.
VM: Exatamente. Para finalizar, nós vamos fazer uma aula ao vivo, reservada para quem está na nossa base de dados. Portanto, registe-se, porque vai ser exclusivo. Vai ser no início de setembro e nós queremos saber o que é que vocês querem aprender sobre ecommerce.
SC: Muito obrigado por nos acompanharem, por nos ouvirem até ao próximo!