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Category: Gestão de Ecommerce

10 coisas que eu não sabia antes de abrir a minha loja online (e trabalho em ecommerce há 10 anos)

Este será o primeiro post sobre este projeto, a Shaeco, no qual vamos partilhar consigo os desafios, aprendizagens e concretização de objetivos. Provavelmente vai perceber que são posts com mais do que dicas e sugestões de gestão de uma loja online. Vai acompanhar todo este carrossel de emoções que é lançar um novo negócio. Espero que goste!

É incrível o que aprendemos quando somos nós próprios a fazer as coisas. E os últimos meses têm-nos ensinado isso mesmo: por muito que tenhamos experiência numa área em específico (no meu caso gestão de ecommerce e de marketing digital para ecommerce), nada nos ensina mais do que a experiência de sermos nós próprios a colocar a “mão na massa”, a gerir todos os processos e procedimentos, contactos com fornecedores, processo de internacionalização da marca, contactos com clientes e até ligar as impressoras das transportadoras ao nosso computador de trabalho.

Todos os micro processos que vemos os nossos clientes e parceiros a executar no dia-a-dia tornam-se da nossa responsabilidade e depois de os executarmos, um a um, além de reforçarmos o que já sabíamos, aprendemos muitas coisas novas.

Se ainda não teve a oportunidade de conhecer o nosso novo projeto, aproveite para o fazer antes de continuar a ler este blog post. Conheça a loja online da Shaeco – marca de produtos cosméticos ecológicos e sustentáveis – em www.shaecoshop.com.

1. O que as transportadoras não nos dizem

Desde 2015 que negociamos com transportadoras, na maioria das vezes, em nomes dos nossos clientes. Temos, enquanto empresa, uma boa relação com várias empresas no mercado e esperamos que assim continue. Reforçamos com frequência junto dos nossos clientes a importância de escolherem transportadoras não apenas pelo preço mas também pelo serviço. Foi o que fizemos.

No entanto, em apenas 2 semanas tivemos de mudar de transportadora para Portugal, depois de passarmos por diversos processos que nos desagradaram. Desde termos comprado uma impressora para impressão das etiquetas que agora de nada nos serve porque não recebemos a informação correta do que deveríamos comprar, à necessidade de pedirmos consumíveis à transportadora que não queremos usar (como plásticos adicionais) e, por fim, à exigência de colocação da fatura ou guia de transporte por fora da caixa.

Acabamos por mudar de transportadora, a qual não nos exige a fatura no exterior – estamos a estudar ainda as alternativas, para já, responsabilizamo-nos que tivermos alguma coima, mas acreditamos que o que a lei refere é que para o consumidor final não é necessário existir um documento de transporte por fora da caixa. Recebemos ainda uma impressora e os consumíveis apenas necessários. Por fim, foi e é essencial todo o suporte que temos do gestor que nos acompanha. Claro que temos pequenos problemas com entregas e que às vezes o sistema falha mas em nada se compara com os problemas que ainda temos para resolver. (Não vou falar em nomes de empresas porque considero que este tipo de temas devem ser resolvidos entre as empresas).

2. Automatização de processos

Este é um tema sobre o qual nos debatemos diariamente com os nossos clientes. Se, por um lado, o custo de implementação do projeto dispara quando começamos o projeto com automatismos, por outro, atrasamos o crescimento do projeto quando não o fazemos.

No nosso caso, decidimos investir em tecnologia desde o primeiro minuto em que colocamos o projeto em andamento. Isto significa que uma pessoa sozinha consegue processar mais de 100 encomendas numa manhã – sim, já testamos e é possível! Todo o processo de faturação e de gestão de transportadoras foi automatizado, o que nos permite dedicar menos tempo à preparação e expedição de encomendas do que acontece na maior parte dos projetos.

3. Negociação com fornecedores e o tempo (real) de produção

Demoramos cerca de 18 meses, desde o momento em que decidimos que iríamos criar este novo negócio até efetivamente o lançarmos online. E lançamo-lo no meio da pandemia que todos vivemos recentemente. Foi um processo demorado.

Entre encontrar os parceiros certos, registar a marca, desenvolver os produtos e efetivamente termos os produtos em mãos para vender, passou um ano e meio. Claro que o facto de não estarmos 100% alocados ao projeto acabou por influenciar a data de lançamento, mas também o facto de termos múltiplas entidades envolvidas acabou por resultar numa gestão de projeto mais complexa.

É importante termos em consideração os timings reais e não apenas os que os fornecedores nos indicam. Até porque é certo que alguns atrasos irão ocorrer e que devemos estar preparados para que tal aconteça. Consigo, cada vez mais, comparar um projeto de ecommerce com a construção de uma casa e a gestão de obra. Quantos mais profissionais/empresas envolvidas, mas complexo de torna o projeto. O ideal será criar um plano de projeto que tenha em consideração potenciais atrasos e planos de contingência caso isso aconteça.

4. A dificuldade de internacionalização

Internacionalizar uma marca através de ecommerce parece mais simples do que realmente é. Falamos frequentemente na necessidade de localizar (traduzir e adaptar) os conteúdos, construir campanhas segmentadas para os mercados e ainda desenvolver parcerias de longo prazo com influenciadores locais, mas nunca nos tínhamos debatido com a resistência dos próprios clientes no mercado.

Recebemos várias críticas aos conteúdos que publicamos e até aos ingredientes dos produtos. Dependendo do mercado, uns são mais sensíveis ao preço, outros às características dos produtos e outros ainda à sua origem, além da resistência aos conteúdos em inglês. Para nos posicionarmos realmente como uma marca de referência em mercados internacionais, precisamos de uma estratégia a longo prazo, com um investimento constante e, por vezes, de elevado valor.

A internacionalização será, sem margem para dúvidas, o nosso maior desafio dos próximos anos com a Shaeco. E, embora tivesse sido sempre esse o nosso maior objetivo, sabemos hoje que vai ser o mais difícil de concretizar.

5. A força da assessoria de imprensa

Eu sou licenciada em Ciências de Comunicação, ramo publicidade e relações públicas mas, na verdade, nunca trabalhei nessa área. Talvez por esse motivo desconhecesse o poder da assessoria de imprensa e tenha afastado, por diversas vezes, essa ideia de projetos. Depois do primeiro envio de um comunicado de imprensa da Shaeco para os media – com uma empresa especializada, a Press Pointtivemos o nosso primeiro grande volume de vendas, com mais de 100 encomendas num único fim-de-semana.

Para uma marca pequena, no seu início e com uma base de dados ainda a começar a crescer, esta ação fez toda a diferença. Vamos continuar a desenvolver o nosso projeto em conjunto com a Press Point. E não, eles não nos pagam para dizermos isto. Nós é que lhes pagamos a eles pelo trabalho desenvolvido e temos de lhes dar o devido mérito.

6. O investimento necessário

Antes ainda de lançarmos a loja online já tínhamos ultrapassado o budget original. Tínhamos um plano de negócios desenhado, mas ficou aquém das expectativas iniciais. Envolvemo-nos de tal forma no projeto, que esquecemos por momentos o business plan e fomos investindo no novo negócio, até que já havíamos ultrapassado o projeto inicial.

Por um lado, excedemo-nos de forma inconsciente nuns aspectos e consciente noutros, no entanto, a verdade é que o budget era reduzido para tudo o que pretendemos construir e alcançar. Este é também um tema que discutimos de forma recorrente com os nossos clientes e alunos: até onde posso investir ou até onde quero crescer as minhas vendas. É um equilíbrio difícil de alcançar. E, sem investimento, não é possível o crescimento. Mas crescer de forma sustentável pode atrasar esse mesmo crescimento. Em suma, tenham sempre mais dinheiro disponível do que consideram necessário (uma “almofada financeira”), mas reservem-no e usem só em caso de extrema necessidade.

7. Os recursos humanos (e tempo)

Estamos muito habituados aos processos em ecommerce e ao tempo necessário para os concretizar. Lidamos diariamente com este tema. E até medimos tempos quando necessário. No entanto, só quando somos nós próprios a executar uma tarefa é que realmente percebemos o tempo necessário para a executar.

Por outro lado, também sabemos como otimizar as tarefas, o que nos traz alguma vantagem face a outros projetos que começam do zero. Por exemplo, no processo logístico (de picking, packing e shipping) e logo desde o início, implementamos sistemas que nos permitem fazer isto de forma muito rápida. Em menos de 2 minutos processamos uma encomenda, incluindo a emissão da fatura, preparação e fecho da caixa e emissão da guia de transporte.

No entanto, existem outros processos que nos obrigam a muita dedicação como gestão de clientes, produção e edição de conteúdos e de campanhas ou até gestão de fornecedores. Sabemos que teremos de ter mais tempo de execução de tarefas para as podermos melhorar. No entanto, já compreendemos o nível de dedicação de necessário – e é total!

8. A qualidade dos conteúdos

Se há algo em que acreditamos desde o primeiro minuto foi que os conteúdos tinham de ser de elevada qualidade. Investimos uma boa parte no nosso orçamento na produção de imagens e de vídeos. Sabemos o quão isso faz a diferença numa nova marca e na sua promoção.

Comprovamos o que já sabíamos: a cada imagem publicada, campanha criada e conteúdo produzido, crescemos mais enquanto marca no mundo digital. Poderíamos ter começado com um menor número de conteúdos ou menos qualidade. Hoje temos a certeza que não o poderíamos ter feito de outra forma. Vemos, inclusivamente, concorrentes diretos da marca a “copiar” a nossa linguagem, seja em imagens, vídeos ou textos.

Acreditamos que estamos também a mudar um pouco a forma de comunicar os produtos que vendemos, mesmo não sendo os únicos no mercado. Estamos a alcançar novas audiências, fora do nicho de mercado em que normalmente se posicionavam os produtos que vendemos (para quem tiver curiosidade, são produtos cosméticos sólidos).

9. A capacidade de rápida adaptação

Temos um grande objetivo e não sabemos como lá chegar – ainda! Ter a capacidade de rapidamente tomar decisões tem sido essencial. Podemos analisar tudo ao pormenor e até tomar decisões mais ponderadas. No entanto, por experiência própria, 80% das decisões rápidas que tomamos têm resultados diretos no nosso crescimento.

Racionalizar todos os detalhes ao pormenor não nos vai ajudar a crescer nesta fase. Analisar os dados que temos em determinado momento e decidir é essencial. Por exemplo, fizemos uma campanha de teste para todos os mercados europeus. Percebemos rapidamente quais demonstravam mais interesse pelos produtos Shaeco. De seguida, acionamos campanhas específicas para esses mercados. Testamos e analisamos os dados: quantas pessoas novas entraram no site, quantos novos registos, quantas adições ao carrinho e, por fim, quantas conversões.

Umas campanhas funcionam, outras não. Mas hoje sabemos mais do que sabíamos antes dos testes. E temos a certeza que não vamos ficar por aqui. Isto significa que por vezes investimos sem retorno direto de vendas. Mas recolhemos mais informação para otimizações futuras.

10. O que pensas quando não consegues dormir

Sempre tive alguma dificuldade em dormir. Durmo pouco e acordo durante a noite a resolver equações matemáticas complexas (esta parte é mentira porque sou uma nódoa a matemática). Mas passo muitas noites a resolver problemas das empresas e projetos. Em nenhum desses devaneios noturnos tive vontade de desistir de nenhum dos nossos projetos, seja TSE, Shaeco ou até a Casa do Mestre (que já pode encontrar no Instagram).

Faço mais planos, encontro soluções, combino novos desafios comigo própria e desenvolvo novos objetivos. É nessas alturas que tenho a certeza que estou e estamos no caminho certo. Acho que são essas noites que validam os dias. Falo com muitos empreendedores que partilham o mesmo: se não desistimos dos nossos projetos durante uma noite mal dormida, de certeza que não vamos desistir quando estamos com a mão na massa durante do dia.